domingo, 11 de janeiro de 2009

Pensando (ou ouvindo) o ensino público

Você tem acompanhado os últimos acontecimentos envolvendo o ensino público escolar? As discussões entre a SEC/RS e o CPERS?
Deveria. Por essas e outras eu irei reproduzir aqui uma carta enviada por uma professora a uma colunista de um famoso jornal do RS.

"Concluído mais um ano letivo, o professor da rede estadual de ensino verifica sua derradeira média anual. É o momento em que totaliza os seus desgastes, as suas prováveis metas educacionais não atingidas e, quanto ao seu futuro profissional, as suas perspectivas desalentadoras. Assim, ele alcança mais uma vez grau dez em insatisfação. Com o acréscimo de mais esse resultado à sua bagagem de educador, se abraça ao colega, não num gesto de alegria de missão cumprida, antes numa atitude de solidariedade para com o outro, movido pelo desencanto que a situação conjuntural do momento lhe propicia.
O pregão “por uma educação pública de qualidade” não mais o sensibiliza. Já não produz mais ecos no seu meio. As mazelas da profissão que o envolvem são de toda ordem. Elas são muitas. Aliás, demais. A remuneração oferecida, por exemplo, não se harmoniza com a condição de profissionais bem preparados e qualificados, contrariando de todo o desejo (sabidamente utópico ou então demagógico) dos responsáveis pela educação. Grande parte do que ainda existe, em termos de qualificação nessa área, consta nos currículos de profissionais em meio ou em fim de carreira. A confirmação pública dessa condição está no Edital nº 60/2008, do DRH – SEC, em que são convidadas a se inscreverem no cadastro de contratações temporárias pessoas que tenham freqüência comprovada em curso superior de formação de professores, no mínimo 4º semestre. Ou seja, o chamamento inclui pessoas que, em seus estudos acadêmicos, certamente, ainda não passaram pelas disciplinas fundamentais do curso, pela prática efetiva de ensino. E nessas circunstâncias, é quimérico exigir-se qualidade no fazer didático-pedagógica de um professor.
Além disso, os aspectos emocionais, principalmente o motivacional, têm caráter determinante na atuação profissional de qualquer cidadão. E com o professor obviamente não é diferente. Quando a relação de trabalho é permeada pela opressão, o indivíduo sente-se humilhado. Menosprezado. Doído. Momento propício para que a revolta tome forma e se agigante. E seus efeitos são portentosamente negativos. Em decorrência disso, o profissional abandona a empreitada e busca outra alternativa de trabalho ou então ele se resigna à sua condição de desvalorizado e, por conseguinte, perde o viço necessário para o desempenho de suas funções. Deixa-se ficar, deixa de dar o melhor de si, porque esse “melhor” já está em processo de desvanecimento. E o resultado dessa condição? Bem, este já é por demais conhecido. E se as suas conseqüências são extremamente injustas para com o aluno, também o são, na mesma medida, para com o professor.
Então, ao se preparar o início de um novo ano letivo, é preciso também lembrar daquele professor, a quem não é dado espaço nos meios de comunicação e que ainda vê a educação, não como uma questão de embate de política partidária ou como uma causa inglória de uma categoria profissional desvalorizada, mas como uma questão de justiça social, justiça para com aqueles segmentos da sociedade que fazem e freqüentam a escola pública.
Que 2009 seja realmente um bom ano novo letivo para a escola pública gaúcha!

Maria de Lourdes Spohr
Professora da rede estadual de ensino"
Bjinho
Rafa

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