quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Velhos tempos, belos dias.

Foi nas minhas férias, num final de semana. Estava passando uns dias na casa de meu primo, talvez o melhor amigo de minha infância. Lembro do escarcéu que meu pai apertando a buzina. Estávamos na janela quando ouvimos o barulho. Fomos correndo para a sacada quando vi o opala verde-metálico dobrar a esquina. Lembro, como se fosse hoje, das duas bicicletas rosa no bagageiro do carro. Minha avó tinha prometido que quando completássemos 10 anos ganharíamos uma bicicleta. A infância de meu pai não tinha sido muito lúdica, então minha avó tentou se justificar com os netos, dando uma bicicleta para cada um aos seus dez anos. Eu, como ainda tinha oito anos, não tinha bicicleta nova, somente uma muito velha, vermelha e pequena, que não sei como chegou até nós. Engraçada a nossa memória, certas coisas são tão nítidas, e outras, nem com minha mãe descrevendo eu me recordo. Lembro da minha cara de fascínio ao ver essa velha bicicleta vermelha dobrada no porta-malas. Embora fosse velha ela era dobrável. Meu pai resolveu aproveitar o domingo, com a família, em um passeio na redenção. Meu tio acabou gostando da idéia e fomos todos juntos. Não sei o que deu em meu pai, ele não é muito de sair de casa, ainda mais ir a um parque. Mas era um lindo dia de sol e eu tinha apenas oito anos. Lembro da minha cara de frustração quando minha mãe disse que tinha esquecido o pezinho da bicicleta. Não acreditava que iria ficar apenas olhando. Não sei direito como foi, mas me recordo que, só no final da tarde, eu tomei coragem e comecei a andar na bicicleta. Claro, com minha mãe segurando no banco, e correndo como uma louca ao meu lado. Foi um dia lindo, o dia em que aprendi a andar de bicicleta. Meu pai ensinando as técnicas para manter o equilíbrio, e me ensinando a cair. Minha mãe, sempre paciente e uma rocha ao meu lado, estendendo sua mão. A cara de pavor de um senhor, que eu atropelei. A mesma cara que fez uma mulher, que estava agachada dando o nó no cadarço do tênis da filha. Teve uma terceira pessoa que eu também atropelei, mas que não me recordo. Essas coisas de memória, e de sentimentos também. Tantas coisas para eu recordar, com essa riqueza de detalhes, e logo isso não me sai da cabeça. Talvez porque eu fosse um menino de oito anos, num lindo dia de domingo, passeando com sua família. Talvez por essa ter sido a minha primeira conquista. Talvez porque nesse dia eu tenha me sentido amado, incondicionalmente. Talvez. E pensar que faz anos que não subo em uma bicicleta.

Bjinho
Rafa

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa que lindo Rafael!
Quando a sua sensibilidade aflora dá até gosto de ver!
Beijo